O Estado das Direitas

Decorre nos próximos dias 1 e 2 de Fevereiro, das 10 às 17 horas, na Sala Polivalente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), o colóquio com o tema “O Estado das Direitas na Democracia Portuguesa”, organizado por Riccardo Marchi.



Na linha do seminário dedicado ao estudo histórico e político das direitas portuguesas intitulado “As raízes profundas não gelam? - Ideias e percursos das direitas portuguesas”, realizado em Novembro de 2010, o investigador italiano radicado em Portugal Riccardo Marchi, autor dos livros “Folhas Ultras - As ideias da direita radical Portuguesa (1939-1950)” e “Império, Nação, Revolução - As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)”, organiza agora o colóquio “O Estado das Direitas na Democracia Portuguesa”.
O foco de análise neste colóquio é o Estado no seu duplo significado de “Condição” e “Ordenamento político-jurídico”. Como nos explica a apresentação, “por um lado, a ‘condição das Direitas’ na sua dimensão política e cultural, numa perspectiva diacrónica desde a institucionalização da democracia até aos nossos dias. Por outro lado, o ‘projecto institucional’ das Direitas na sua dimensão nacional e internacional, numa perspectiva de futuro”.
O colóquio será dividido em dois painéis por dia, aos quais se segue um período de debate. No primeiro, “Direitas e partidos”, moderado por Riccardo Marchi, falarão Tiago Fernandes, sobre “Direita e qualidade da democracia: Portugal em perspectiva comparada (1974 – 2010)” e José Pedro Zúquete, sobre “Direita, genética: entre o passado e o presente”. O segundo, subordinado ao tema “Direitas e Cultura”, terá as intervenções de Patrícia Silva, com a comunicação “Direitas e discurso político: O CDS entre passado e presente”, Alexandre Franco de Sá, com “Direita, Hegemonia e Filosofia Política”, e Pedro Mexia, com “Direitas e Artes”, e será moderado por José Pedro Zúquete. No segundo dia, o painel da manhã, com o tema “Direitas e Estado”, será moderado por Tiago Fernandes e terá como intervenientes Pedro Lomba, com a comunicação “As Direitas e o Estado na arquitectura constitucional”, João Pereira Coutinho, com “As Direitas e a relação entre o Estado e os Corpos intermédios”, e António Araújo, com “As Direitas e a relação entre o Estado e a Sociedade”. O último painel, intitulado “Direitas e Poderes”, com moderação de António Costa Pinto, terá as comunicações “As Direitas, o Estado e o Supranacional (Europa e Comunidade Internacional)”, de Marina Costa Lobo, e “As Direitas e o Estado face ao mercado”, de André Azevedo Alves. A entrada é livre e aberta a toda a comunidade.

Andam distraídos...


Fotografado ao pé da Batalha no dia 18 de Janeiro de 2012. A empresa de aviação estado-unidense quebrou a 4 de Dezembro de 1991.

1.º Ano de Vida!

Este blogue colectivo completa hoje um ano de vida. E fá-lo com oito veteranos bibliófilos e bloguistas no activo. Por estas e outras, é obrigatório visitar diariamente o Jovens do Restelo.

Caldo de Cultura (XXII)

Almoçaram ontem os jovens Bruno Oliveira Santos e João Marchante, acompanhados de Francisco Cabral de Moncada. Os três abancaram num restaurante do Campo Pequeno, por motivos gastronómicos e políticos. A comida é boa e, nos tempos que correm, para enfrentar os animais da governação, só mesmo na arena de pampilho em punho, para varejar cornúpetos e outros democratas. Quem levou o quê?

Uma péssima notícia para estreia...

Desde sempre conheci a Portugal, na então aprazível Rua do Carmo, frequentei-a, comprei lá inúmeros livros e durante anos foi a minha livraria preferencial em Lisboa, seria pelo nome?
Passados 70 anos vai encerrar... Mais um símbolo da velha e boa Lisboa que acaba!

É sempre um prazer recordar

Quem somos.

L'État c'est pas moi


O Estado que "está" aí - moderno, liberal, democrático ou como se lhe queira chamar - cai aos pedaços e o seu tempo está contado. Aqueles que o não têm em grande estima podem sentar-se confortavelmente, cruzar os braços e assistir ao seu desabamento. Mas também podem contribuir para acelerar o processo, mesmo que seja arrancando ao monstrengo uma só pedrinha da base.

Caldo de Cultura (XXI)


Um óptimo regresso do almoço dos Jovens, deslocado do local e do dia habituais, decorreu hoje com um belo cozido, como não podia deixar de ser. Sentindo a falta do mestre Paulo e dos verdadeiramente jovens Miguel e Lourenço, juntaram-se neste reencontro o Marcos, que mais uma vez atravessou o Atlântico, o João, o Duarte, e o nosso caríssimo Amigo Humberto Nuno de Oliveira. Cada um levou um livro e a fotografia aqui fica para o desafio do costume. Quem levou o quê?

Abastardar sim, mas depressa...


O que mais fez-me impressão neste meu - quase eliadeano - retorno pátrio é a rapidez frenética com que muitos trataram de adoptar o vil acordês cozinhado em altas negociatas interatlânticas. Lembrei logo do que foi a substituição das matrículas portuguesas (nossas) pelas ditas "europeias" (dos outros)... Tanta gente a querer ser avançada, cosmopolita, e parecer-se com alemães, franceses, etc.! Pois nisto da ortografia ainda é pior. Se há - e como! - os pacóvios de costume, convencidos de que escrever em brasilês é ser modernaço, há muitos que o fazem com a satisfação íntima de aplicar um bom par de coices ao que resta da identidade nacional. Quanto a mim, penso seriamente em voltar à ortografia pré-1911. Só para chatear a malta.

Mercado de Inverno

Para assinalar convenientemente o seu 1.º ano de vida — que se cumprirá já no próximo dia 31 de Janeiro —, o blogue colectivo Jovens do Restelo foi reforçado com uma contratação de peso. O capitão de equipa — Duarte Branquinho — anunciará em breve o nome do novo atleta das artes e letras.

Lisboa Sempre



Para além de tudo o que aqui atrás ficou escrito sobre a fita, acrescento: em Lisboa, Crónica Anedótica (Portugal, 1930), Leitão de Barros filma os ciclos da vida — da infância à velhice — de uma forma espiritual e bela. As caras e os corpos são retratados com profundidade e sensualidade. É um esteta voyeur que vampiriza as pulsões eróticas das mulheres e homens de Lisboa — nessa inebriante viragem de décadas —, sem, contudo, lhes retirar a energia, ou — muito menos — a alma. Afinal, este autor é também um humanista, com toda o peso histórico e estético que a palavra contém. Assim, atravessando bairros e estractos sociais, mostra várias personagens anónimas da Capital, com notáveis grandes planos de rostos, em toda as suas expressivas personalidades. Por outro lado, quando se trata de planos gerais, como na espantosa sequência das Forças Armadas, com Armada e Exército, os movimentos dos grupos adquirem um valor balético e coreográfico inexcedível até hoje no Cinema Português. Nestas cenas, o efeito de ralenti vem sublinhar a beleza plástica e rítmica das acções: os marinheiros do Navio-Escola Sagres são elevados, nas suas simples tarefas diárias — depois de captados pela sua câmara voyeurista e verista, e após a dinâmica montagem —, à categoria de heróis clássicos, na dimensão escultórica dos corpos atléticos e na coreografia dos marciais movimentos colectivos. Aqui cheira a Couraçado, de Eisenstein, como aliás ao longo de toda a película também se sente Vertov; mas, cá para mim (meu Deus, o que eu vou dizer...), vai-se mais longe em poesia do olhar, pois também pressentimos a influência das vanguardas cinematográficas francesas e alemãs. Leitão de Barros usa Lisboa e os lisboetas como matéria-prima para edificar um filme de arte, simultaneamente lírico e épico, original sinfonia de uma capital, com as fortes marcas identitárias da cidade à vista — onde, ainda hoje, todos nos reconhecemos. Destacaria, a finalizar estas notas de visionamento, escritas e reescritas ao correr das teclas, e só estas, porque este filme não se encerra — pois fugiria certamente! —, uma última sequência: o treino de uma belíssima carga (homens de espada em riste e cavalos galopando, em plena harmonia) levada a cabo pelo Regimento de Cavalaria 7 (onde o meu Pai foi oficial miliciano, diga-se de passagem) ; nestas imagens, em slow motion, é toda uma Ética de Cavalaria — para sempre perdida — que desfila à nossa frente. E, assim, através dessa simbólica manobra militar, vemos, claramente, o fim de toda uma Época. De arrepiar.

Cidade Branca



Em 1 de Abril de 1930, estreia simultaneamente no São Luiz e no Tivoli (parece mentira, mas é verdade; bons tempos!), Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros. Este cineasta tem como marca principal um apurado sentido estético, partilhado com a extraordinária geração de que faz parte — Chianca de Garcia, Jorge Brum do Canto, António Lopes Ribeiro, Cottinelli Telmo, e outros de igual qualidade.
José Júlio Marques Leitão de Barros nasceu no Porto, filho de um Capitão-de-Mar-e-Guerra, mas foi registado em Lisboa, onde veio a morrer em 1967. Depois de tirar o Curso da Escola de Belas-Artes, foi Professor dos Liceus — o seu manual Elementos de História da Arte é ainda hoje uma referência —, e destacou-se como pintor, estando representado em vários Museus portugueses e estrangeiros. Por outro lado, como dramaturgo, escreveu várias peças que foram representadas no Teatro Nacional e noutras salas. Foi também jornalista em O Século, A Capital e ABC, e fundou e dirigiu Domingo Ilustrado, Notícias Ilustrado e Século Ilustrado; ficaram ainda célebres as suas crónicas semanais no Diário de Notícias, sob o título «Os Corvos» (publicadas em dois volumes, com ilustrações de João Abel Manta). Organizou os cortejos históricos das Festas da Cidade de Lisboa (1934-1935) e foi Secretário-Geral da Exposição do Mundo Português (1940). Tudo isto, e muitas outras actividades de idêntica relevância.
Recuando agora ao seu debute cinematográfico, há que referir 1918 como o ano dos seus primeiros (quatro!) filmes, de que se destaca o infelizmente desaparecido Sidónio Pais — Proclamação do Presidente da República. No entanto, é preciso esperar por 1930, para assistirmos ao seu arranque em duas frentes, ainda no Cinema Mudo, com duas obras de enorme beleza plástica: a já referida Lisboa e Maria do Mar — filme este que marca presença, com exibições habituais, nas principais cinematecas europeias e que a nossa Cinemateca Portuguesa em boa hora restaurou e exibiu, no ano passado, numa sessão onde se perfilaram dez pessoas (sim, eu estava lá com um par de alunos e vi com os meus próprios olhos!). Esta película tinha sido antecedida por Nazaré, Praia de Pescadores (1929), que cativou, de imediato, público e crítica — uma característica deste cineasta ao longo da sua extensa carreira, que coincidiu com uma época de profunda identificação dos portugueses com o seu Cinema.
O viveiro de todo este Novo Cinema, em pleno Estado Novo, seria a Brasileira do Chiado, os escritórios do São Luiz e do Trindade, e os estúdios da Tobis no Lumiar, de cuja fundação Leitão de Barros viria a ser um dos principais impulsionadores.
No início de 1929, Leitão de Barros e António Lopes Ribeiro partem em viagem, à descoberta dos principais estúdios de Cinema da Europa, onde conhecem e convivem com os maiores cineastas desse tempo — da Alemanha à Rússia…! Regressados à Pátria, Leitão de Barros lança-se na rodagem de Lisboa, Crónica Anedótica, a fita que hoje aqui trazemos, e que é um marco mundial na tendência europeia dos documentários poéticos, de matriz futurista, sobre a vida das grandes cidades, que tinha até aí em Berlim, Sinfonia de uma Capital (1926), de Walter Ruttmann, o seu mais alto expoente.
Lembremos aqui que Leitão de Barros, que trabalhava como professor de Desenho e Matemática (mais uma das suas aparentes contradições, mas expressão máxima da sua versatilidade criativa), era um nacionalista puro, sempre em busca da exaltação estética dos valores tradicionais de Portugal; conseguia extrair beleza da nossa Terra e do nosso Povo, numa linguagem moderna e apelativa. O seu apurado sentido de humor fazia-o evitar o ridículo e o mau-gosto (tão comuns na nossa burgessa e deslumbrada burguesia de hoje).
Homem de várias Vidas — pintor, professor, cineasta, jornalista, criador de grandes espectáculos —, foi no Cinema, porém, que encontrou o meio para explanar totalmente a sua Arte: estão aí A Severa (1930) — primeiro filme sonoro português —, As Pupilas do Senhor Reitor (1935), Bocage (1936), Ala-Arriba! (1942) — premiado no Festival de Veneza —, Inez de Castro (1944), Camões (1946), Vendaval Maravilhoso (1949), para o demonstrar, além de vários documentários, que são peças fundamentais para estudar a época histórica do Estado Novo.
Vamos então a Lisboa, Crónica Anedótica, que se faz tarde. Este filme é o mais autêntico documentário feito até hoje sobre a Capital; mas é também, ainda, muito mais do que isso: é uma fita onde aparecem os maiores actores da época — e de sempre?… — do Teatro e do Cinema de Portugal (Nascimento Fernandes, Beatriz Costa, Vasco Santana, Erico Braga, Chaby Pinheiro, Estevão Amarante, Josefina Silva, Eugénio Salvador, Adelina Abranches, Costinha, Alves da Cunha, e muitos outros… — caramba!). Todos eles interpretam personagens típicas de Lisboa, misturadas com as figurais reais do quotidiano da cidade.
Esta convincente articulação de realidade e ficção, de linguagem documental e fantasia, fazem desta obra um caso sério de inovação, qual precursora de fenómenos cinematográficos do pós-II Guerra Mundial, como o neo-realismo italiano. No caso da nossa Lisboa, o verismo antropológico conjuga-se com um requinte formal de artista sofisticado — Leitão de Barros era um esteta — e surge livre de visões marxistas, habitualmente transformadoras dos tipos sociais em estereótipos.
O filme avança em animado ritmo, com uma montagem que assegura a colagem dinâmica dos fragmentos — pitorescos, mas ao mesmo tempo poéticos — e cria um sentido para as imagens (magníficas, do grande operador Artur Costa de Macedo), ao som da Música de Frederico de Freitas, Juan Fabre e António Melo — interpretada ao vivo, pelas melhores orquestras, durante as projecções (Cinema Mudo oblige).
O que seria apenas um documentário, eleva-se, assim, à categoria de grande peça «cinegráfica» (na feliz expressão do meu Saudoso Mestre Luís de Pina, na sua História do Cinema Português).
Ao vermos este filme, sentimos a nostalgia de uma cidade branca, monumental, simples, luminosa, alegre, dinâmica, viva, habitada — com seus tipos genuínos —, com Alma! E, apetece-nos perguntar: — Por que será que agora Lisboa aparece sempre cinzenta e triste no Cinema Português a que temos direito e que pagamos com os nossos impostos?…
Lisboa, Crónica Anedótica apresenta-se, assim, como mais uma prova de que é possível alinhar Portugal com o «ar dos tempos» — a par de Ruttmann e Vertov, neste caso — sem abdicar da Identidade Nacional.
Veja-se e faça-se, de novo!


Nota: Sobre esta fotografia, da rodagem de Lisboa, Crónica Anedótica, que ilustra o meu texto, aconselho a leitura do seguinte post. Com um beijo de bem-haja à confrade bloguista Vera Futscher.

La Nouvelle Revue d’Histoire n.º 58


O número 58 de «La Nouvelle Revue d’Histoire», relativo aos meses de Janeiro e Fevereiro, disponível nas bancas nacionais, tem como tema central “Os intelectuais e a esquerda na Colaboração” e oferece um excelente dossier com vários artigos de Dominique Venner, Julien Hervier, Francis Bergeron, Alain de Benoist, Philippe d'Hugues, Charles Vaugeois e Antoine Baudoin. Destaque ainda para os artigos “Hanna Reitsch, uma aviadora alemã”, de Yvonne Pagniez, “1912. O apogeu da corrida aos pólos”, de Philippe Conrad, e “Mackinder, teórico da supremacia anglo-saxónica”, de Aymeric Chauprade, e a entrevista com Françoise Autrand. Como sempre, há ainda outros artigos e as secções habituais de actualidade e crítica de livros. Uma referência na divulgação histórica.

Pioneiro Português


Manuel Maria da Costa Veiga inicia a sua actividade cinematográfica como exibidor de filmes estrangeiros em Lisboa. Embora residente em Algés, era uma típica figura da Capital na viragem do século XIX para o XX — dandy alto e espadaúdo, de farta mas cuidada barba à moda. Além do mais, era um curioso e especialista em mecânica e electricidade, o que lhe conferia uma aura de mágico, nesses tempos da iluminação a gaz.
Costa Veiga ajudou Edwin Rousby na primeira exibição em Portugal de imagens em movimento, que decorreu no Real Coliseu da Rua da Palma (hoje desaparecido, para dar lugar a caixotes pós-modernos); sessão essa que teve na assistência o Infante D. Afonso, irmão do Rei D. Carlos I, o que revela o empenho da Casa Real nas novidades científicas e artísticas que estavam a surgir, na Europa, na sequência da primeira apresentação pública — em Paris, a 28 de Dezembro de 1895 — de imagens captadas, reveladas e projectadas pelos irmãos Lumière, com a sua maravilhosa máquina Cinématographe.
A referida estreia lisboeta aconteceu em Junho de 1896 e nela foram projectadas fitas rodadas à volta do Mundo por operadores do pioneiro londrino Robert-William Paul. Foi um sucesso público, esta iniciativa do misterioso exibidor itinerante (húngaro ou americano, ninguém sabe) Edwin Rousby, «o electricista de Budapeste». Este, em Setembro, propicia nova sessão pública em Lisboa, agora com películas já filmadas no nosso País, pelo operador Harry Short, que Paul mandara para o sul da Europa à caça de imagens. A Cinemateca Portuguesa possui dois destes filmes: A Boca do Inferno e A Praia de Algés na Ocasião dos Banhos. Em Janeiro de 1897, Rousby parte definitivamente de Portugal, mas deixa em Lisboa a semente da cinefilia.
Depois deste flashback, para enquadramento histórico da aparição do Cinema («Animatógrafo», nas palavras de então) em Lisboa, vamos ao nosso pioneiro: Costa Veiga, após várias tentativas falhadas nesse sentido, conseguiu estabelecer-se como exibidor, inaugurando o Éden Concerto, aos Restauradores, e a Esplanada D. Luiz Filipe, em Cascais. Não tardou, no entanto, a dar o salto para a produção de filmes. Assim, aproveitando a estada sazonal do Rei D. Carlos em Cascais, no Verão de 1899, filma a Pessoa Real na praia, capta mais algumas vistas da então famosa estância balnear, e, finalmente, apresenta a sua primeira película: Aspectos da Praia de Cascais.
Foi o início de uma carreira de grande actividade como documentarista (palavra e conceito inexistentes à época, mas é disso que se trata), que atravessará toda a primeira década do século XX, registando os principais acontecimentos sociais e políticos, com a sua câmara inglesa Urban.
As vindas a Portugal de Chefes de Estado, e outras altas figuras, não lhe escaparam; e, temos, assim, a Série — interessante e fundamental para a compreensão da História da Europa — «Visitas a Lisboa»: Eduardo VII (1903), Afonso XIII (1903), Duques de Connaught (1903) Imperador da Alemanha Guilherme II (1905), Presidente de França Émile Loubet (1905), Rei de Saxe (1908).
Por este motivo, ficou conhecido por «Cineasta dos Reis», em oposição jocosa ao seu contemporâneo Aurélio da Paz dos Reis, «o Reis Cineasta», do Porto — primeiro português a dar à manivela uma câmara de filmar; e, revolucionário republicano, por sinal… Deste, falaremos noutro dia.
Entretanto, Costa Veiga fundou uma empresa produtora de Cinema — Portugal Filme —, continuando ainda a sua actividade profissional nos ramos da exibição e distribuição de fitas. Descobriu também, para o Cinema Português, Artur Costa de Macedo, que viria a ser um dos nossos melhores directores de fotografia, decisivo na Época de Ouro do Cinema Português (décadas de 1930 e 1940), e que trabalhava antes na garagem Auto-Palace, ao Rato.
Num tempo muito anterior ao advento da Televisão, era através do Cinema que os Estados comunicavam com os seus cidadãos e passavam para o exterior as imagens do País. Neste contexto, os filmes de Costa Veiga fizeram parte de uma grande e última ofensiva diplomática da Monarquia Portuguesa. A já referida Série «Visitas a Lisboa» foi distribuída por toda a Europa, com o apoio do Rei D. Carlos, mostrando Lisboa, como capital cosmopolita, acolhendo as principais figuras políticas do Mundo.
Note-se que os filmes, embora numa fase embrionária da Sétima Arte — em formato de curtas-metragens, a preto-e-branco, mudos —, eram um negócio rentável; e, Costa Veiga pôde enriquecer com a produção, distribuição e exibição de fitas, despertando, desta maneira, o apetite de muitos outros para esta indústria, os quais não tardaram a aparecer, em força, em Lisboa.
Sendo Costa Veiga «O Cineasta dos Reis», de facto, pode também dizer-se que a sua carreira sofre um grande abalo com o horrível Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 no Terreiro do Paço. Temos assim — simbolicamente — como uma das últimas obras do realizador: Os Funerais de S. M. El-Rei D. Carlos I e do Príncipe Real D. Luiz Filipe (1908).
Agora, depois de já passados cem anos sobre o cobarde crime do Terreiro do Paço, não será a hora de se desenterrarem e exibirem os filmes do pioneiro lisboeta — do Cinema Nacional — Manuel Maria da Costa Veiga?

No Olho!


À falta de motivos mais dignos, a voracidade mediática mergulhou na Maçonaria. Com a consequência pacóvia de fazer muitos membros, simpatizantes e estudiosos saltar a terreiro em defesa da dita, numa gama de registos que vai da exaltação do papel libertador da coisa, à instilação de que ela não é tão má como a pintam. Esqueçamos as grandes palavras ocas e as carências de empatias que se perfilam por detrás de qualquer organização do género, o que é evidente é que estamos perante uma estruturação de cumplicidades que visa a obtenção de Poder e excluir ou preterir na disputa dele os que lhe não pertençam. Quando as apetências eram de índole cultural foi encarnada por uns aristocratas desejosos de combateremo ócios e fastios com o domínio dessa vertente, graças ao apoio dos confrades. No Liberalismo emergente, passaram a ser os assaltos às instituições políticas e aos bens nacionalizados o object(iv)o dos entendimentos da fraternidade em questão. Com o alargamento do espectro social dos seus membros, passou a empenhar-se na República, pois uma quejanda modificação do sistema abre sempre mais cargos à fomeca deles. Fê-lo, diz-se, com actas da organização a respaldarem assassinos de Reis que eram seus membros e, incontestavelmente, usando de forma rotineira a violência de "formigueiros albinos" para esmagar sindicatos, como outros opositores; e para resolver até rivalidades intestinas. Esse Sidónio que ontem um Investigador dava como um dos seus Membros Ilustres, quer dizer, atenuante, tinha-a abandonado ao perceber onde se havia metido e dissera alto e bom som para quem o ouvisse que tinha assinado a sua sentença de morte com a clivagem face a tal submundo. Que admira hoje, quando o arrivismo na Crise visa mera dinheirama, que as pressões da organização se orientem para cargos e informações propiciadoras de carcanhol? Outro tanto se verificara em França nos desvios do caso Stavisky. Não se pode é pactuar com a cantilena de que não se deve visar a federação, por serem muitas as obediências e núcleos, que não a Loja MKozart das notícias incriminatórias. Essa é argumentação tão procedente como a da defesa da Mafia sob o pretexto de que só uma das suas famílias estava acusada de determinado crime, quer dizer, dar-nos música e de muito pior qualidade do que a do Patrono envolvido. Na melhor das hipóteses, a polarização maçónica, com ritos de hostilidade aos profanos de duvidosa constitucionalidade e incontestável imoralidade, é uma megalomania inócua que tenta inventar-se genealogias de enturmanço e confortos de ambiciosos ou traumatizados sociais da mesma igualha. Na pior, é uma sede de exclusão do Outro que não olha a meios e se deixa aprisionar pela ideia fixa de prevalecer. E seria estranho que tanto se criticasse campos muito mais inofensivos e abrangentes, como a porosidade entre a Política e o Futebol e se deixasse intocada a mixórdia consequente de favorecimentos e preterições, por vezes ilegais, que mancha o Avental. Dos mais livres de aspirações de carreira de entre os seus membros rebentam ramadas da malignidade mais reconhecível, sejam esse Crowley sacrificador de animais e suspeito de homicídios, ou o confesso autor norueguês de atentados repugnantes. Claro que nem todos os Irmãos chegarão tão longe, mas por que carga de água é que as companhias em que andam não nos dirão, também neste caso, um pouco, quem eles são?

Aviso à navegação

A brincar, a brincar (salvo seja!), este blogue colectivo completará 1 ano de vida já no próximo dia 31 de Janeiro. Será motivo, pelo menos, para uma rija almoçarada dos seus autores; e, espera-se, para simpáticas surpresas, feitas aos mesmos, por parte dos seus leitores...

Céline inédito

Disponível nos quiosques nacionais está o número especial da revista francesa “Lire” dedicado ao escritor “maldito” Céline. São cem páginas, a cores e sem publicidade, com vários conteúdos inéditos, para melhor conhecermos este mestre das letras francesas.


Em 2008, a “Lire” dedicou um número especial a Céline que foi um sucesso e rapidamente esgotou. Perante este êxito e as recentes polémicas que envolveram o escritor francês, decidiu agora fazer uma nova edição “enriquecida”, com vários conteúdos inéditos.

A abrir, um artigo de opinião reflecte sobre a ironia de ter sido durante o mandato de Sarkozy, um apaixonado pela obra de Céline, que este escritor foi banido das celebrações oficiais, pela mão do ministro da Cultura, Frédéric Mitterand. Como afirmou o actual presidente francês, “podemos gostar de Céline sem sermos anti-semitas, como podemos gostar de Proust sem sermos homossexuais”, mas nem assim se impediu a censura...

De seguida, há a destacar a entrevista com François Gibault, autor de uma enorme biografia sobre o escritor francês, a publicação do capítulo das Memórias do Coronel SS Hermann Bickler sobre o seu amigo Céline, o artigo onde se questiona se não devia republicar os chamados panfletos anti-semitas, quando hoje estão facilmente acessíveis através da Internet, e a versão integral da entrevista feita por Madeleine Chapsal, em 1957, cuja publicação no “L’Express” causou polémica na altura. Nos vários conteúdos inéditos, há a destacar a obra de Céline mais cara do mundo, um exemplar de “Morte a Crédito” ilustrado por Gen Paul, com a reprodução de vários guaches, e uma carta inédita de Céline a Gen Paul. Por fim, temos três páginas com uma selecção de livros de e sobre Céline.

Para os incomodados do costume, recorde-se o que escreve François Busnel no editorial, parafraseando Gallimard quando decidiu colocar Céline na Pléiade: “Fico contente com todos aqueles que isto vai chatear...”

Fado Filmado


Em Portugal, no ano de 1947, entre as sete longas-metragens produzidas, surge Fado, História d’Uma Cantadeira, que, dez anos depois, virá a ser o primeiro filme exibido pela Televisão Portuguesa, no arranque da RTP.
O seu realizador é Perdigão Queiroga, nascido em Évora, em 1916, e morto fisicamente num acidente de automóvel, em 1980. Este cineasta, depois de uma fase de aprendizagem das técnicas cinematográficas, trabalha como profissional nas áreas da imagem e da montagem. De seguida, em plena II Guerra Mundial, e Golden Age do Cinema Americano, ruma a Hollywood — para os estúdios da major Paramount (uma das cinco maiores empresas de produção cinematográfica dos E. U. A.) —, onde trabalha em montagem. De regresso à Pátria, inicia a preparação de Fado, que será o seu primeiro filme de fundo, numa obra com dezenas de títulos.
A sua filmografia divide-se, como era hábito nos autores clássicos completos, entre documentários (a que hoje chamaríamos «institucionais») e longas-metragens de ficção. Outro ponto alto da sua carreira viria a ser As Pupilas do Senhor Reitor (1961), a partir de Júlio Diniz, e que foi o primeiro filme nacional rodado em cinemascope (formato de ecrã largo).
Mas vamos ao nosso Fado, História d’Uma Cantadeira (1947), de Perdigão Queiroga, que a isso viemos e nisso estamos. Este filme baseia-se, muito livremente, na biografia da grande Amália Rodrigues, então no auge da sua carreira e beleza. Será esta formidável «cantadeira» a protagonizar a fita, com a qual iluminará a tela, como estrela deste melodrama romântico. Para que a musa lusa brilhe, em toda a sua plenitude, muito ajudarão os belíssimos fados de Frederico de Freitas, as letras de Amadeu do Vale, Linhares Barbosa, Gabriel de Oliveira e João Mota, as «sínteses de fados» de Frederico Valério e Jaime Santos, os versos de Silva Tavares e José Galhardo; e, toda esta equipa de luxo, sob a direcção musical de Jaime Mendes.
Abordemos então agora a história, propriamente dita: os cânones do melodrama, herdados — pelo Cinema — da Literatura e do Teatro do século XIX, estão lá todos; e, de uma forma não muito diferente daquela como eram praticados, à época, em Hollywood, mas convenientemente transpostos para a realidade social da Lisboa dos anos 40 do século passado, como se pretende.
Assim, temos uma fadista pobre de Alfama, com um namorado (o guitarrista Júlio — interpretado convincentemente pelo grande Virgílio Teixeira), que, tornando-se famosa, sai do seu bairro, abandonando o apaixonado companheiro e trocando-o pelos círculos da alta-burguesia e da aristocracia de Lisboa. Por fim, depois de peripécias várias, numa trama narrativa bem urdida, temos um final na boa tradição do happy end da Capital do Cinema. Se destaco esta ligação ao cinema clássico narrativo sonoro, que tinha as suas regras ditadas pelos norte-americanos, é porque o filme tem uma desenvoltura própria dos melhores produtos saídos dessas «fábricas de sonhos» que eram os Estúdios de Hollywood.
Perdigão Queiroga junta-lhe ainda os principais ingredientes da Cultura Popular Portuguesa — olhada por alguns arrivistas com desconfiança, pois talvez lhes faça lembrar o berço que renegam —, e, assim, conseguiu fazer um filme que é um dos maiores êxitos de bilheteira — até hoje — do Cinema Português, ao mesmo tempo que recebeu críticas muitíssimo positivas; conjugação esta não habitual. Capas Negras, de Armando de Miranda, desse mesmo ano e também com Amália, foi demolido pela crítica, e com toda a razão, devido ao cinema pobrezinho que revelava.
Neste caso — no nosso Fado —, o pano de fundo de carácter realista com que são pintados os bairros tradicionais de Lisboa, a excepcional representação do galã português de dimensão internacional — Virgílio Teixeira —, o rosto, a voz, e a naturalidade expressiva de Amália, o rigor fotográfico de Francesco Izzarelli, a fluidez da montagem do próprio Perdigão Queiroga — em «estilo invisível», à maneira de Hollywood —, as presenças de António Silva, Vasco Santana, Eugénio Salvador, Tony d’Algy, Raul de Carvalho, e mais uma mão cheia de outros grandes actores, fizeram toda a diferença.
Convém aqui realçar que o Fado e os Toiros são dois mitos permanentes da iconografia nacional; e, se convenientemente levados para a Cinematografia Portuguesa — com um tratamento narrativo e plástico sempre renovado, de acordo com o espírito dos tempos —, podem constituir-se como uma das matrizes estruturais de um verdadeiro género indígena. Os E. U. A. fazem exactamente o mesmo com os seus géneros: Western, Gangsters, Musical. Esta linha do Cinema Português foi, aliás, logo consagrada no primeiro filme sonoro (sonorizado, no entanto, ainda, em França): Severa, de Leitão de Barros.
Em relação a Fado, História d’Uma Cantadeira, diga-se que o Estado Novo — através do SNI, de António Ferro — pareceu gostar a atribuiu-lhe o Grande Prémio, nesse ano de 1947, demarcando-se, deste modo, de Capas Negras, que, apesar de tudo, teve um maior sucesso de bilheteira na época (e mesmo, também, um dos maiores de sempre, até à actualidade).
De facto, António Ferro, com o seu inovador bom-gosto, sabia o que fazia ao distinguir este filme, pois Fado tem tudo: por um lado, uma extraordinária beleza plástica — esse rosto de Amália nada fica a dever aos de outras divas do Cinema Mundial, muito graças ao já referido director de fotografia italiano, que tinha trabalhado no Camões, de Leitão de Barros, e que tem um estilo visual a fazer lembrar o expressionismo alemão; por outro, a banda sonora, já convenientemente aqui destacada, que reunia os melhores autores da música popular portuguesa de então. Finalmente, os diálogos — esse ponto fraco da Cinematografia Nacional — são convincentes e vivos, e ditos com boa dicção, e ainda melhor interpretação, depois de saídos da pena criativa de Armando Vieira Pinto.
E agora vou mas é rever a fita, que fiquei cheio de vontade, e esperar — pessimista, mas esperançoso que sou — que o Cinema Português se reconcilie com o seu público e possa voltar a erguer produções desta dimensão, para que, como neste caso, não abdicando da requintada expressão estética do autor, possa servir, com narrativas escorreitas e simples, temas onde as pessoas realmente se revejam, pois já basta de décadas de divagações umbiguistas, em tom hermético, para consumo próprio (com honrosas excepções, apesar de tudo).
Bem sei que já não temos Amália, aqui e ao vivo, nem Virgílio Teixeira — e que falta fazem! —, mas há por cá novos e bons actores — potenciais novas estrelas! Estarão os actores portugueses para sempre fadados a fazer telenovelas em manhoso estilo sul-americano, ou poderão voltar a brilhar em Filmes Portugueses populares e de qualidade?...
A ver vamos.

Máquina de escrever


Hoje decidi mostrar aos meus filhos uma máquina de escrever. Foi com a Rooy portátil, com teclado HCESAR, comprada pelo meu avô e que depois passou para a minha mãe e, finalmente, para mim, que lhes mostrei como se escrevia antes da era dos computadores. Foi bastante divertido, tanto para eles como para mim. Refira-se que, com mais de meio século de idade, ainda funciona perfeitamente. Um regresso ao passado. Uma máquina de escrever que serviu como máquina do tempo.

Um pequeno grande livro

Na altura em que se assinalam os 150 anos da morte de D. Pedro V, a Texto Editores decidiu publicar o clássico de Ruben Andresen Leitão sobre este monarca que teve um reinado curto mas marcante. Um excelente retrato do nosso Rei Esperançoso.



Ruben Andresen Leitão é mais conhecido como romancista e pelo pseudónimo literário Ruben A., mas este autor fascinante foi também dramaturgo e historiador. Entre 1947 e 1974 dedicou a D. Pedro V, que considerava “o primeiro homem moderno do nosso país”, dezasseis obras. “D. Pedro V – Um Homem e um Rei” (capa dura, 128 páginas, 15,90 euros), escrito em 1947, tem um duplo objectivo segundo o autor – “servir de introdução às Obras Completas de D. Pedro V” e “perpetuar a memória dos verdadeiros homens da Casa de Bragança”. A sua admiração por este Rei em nada prejudica a obra, apenas lhe faz justiça. Para Ruben Andresen Leitão, “a História não pode idealizar figuras quando elas têm valor para transcender o ambiente literário – perde-se a lenda e fica o homem na mais pura concepção da actuação vivida”. No entanto, o escritor, em toda a sua qualidade, está aqui presente, oferecendo-nos uma belíssima prosa e uma leitura deliciosa, com um extraordinário poder de síntese.

O primeiro capítulo, intitulado acertada e singelamente “O Ambiente”, é uma reflexão sobre o conturbado período que antecedeu o reinado de D. Pedro V, fi lho primogénito de D. Maria II e de D. Fernando de Saxe-Coburgo e Gotha, com o qual pode fazer um impressionante paralelo com os dias de hoje. Inspiradoras e reveladoras da sua mente superior, bem como da sua profunda observação do País e do seu povo, são as citações do próprio Rei que encabeçam cada um dos capítulos. Como escreveu o jornalista e historiador Roberto de Moraes na revista “Futuro Presente”, aquando dos 150 anos da aclamação de D. Pedro V, este era “da estirpe de um D. João II a que se juntava algo da inteligência percutante e sombria de um D. Duarte” e “aliava as qualidades do homem de reflexão às do homem de acção, pois se era um realista que não podia ignorar o estado desgraçado em que se encontrava o Reino (muitos anos de guerra civil endémica, sucessão ininterrupta de Governos, humilhações face ao estrangeiro com a convenção de Gramido, revoltas como a da Maria da Fonte e a subsequente Patuleia, etc.), realista dobrado de pessimista, que não ocultava o idealista que também, lá bem no fundo, não deixava de ser”. Um Homem cuja morte precoce foi uma perda para Portugal, mais um daqueles azares históricos que parecem ser recorrentes na nossa História.

Até nas edições há curiosidades que saltam à vista dos mais atentos. Algo que Ruben Andresen Leitão considerava inacreditável era o facto de a data da morte de D. Pedro V estar incorrecta. Como ele escreve, “mataram o soberano em 1859, dois anos antes do seu desaparecimento!” Pois bem, na pequena nota biográfica do autor publicada, também este “morre” um ano antes... Apesar desta gralha, a editora está de parabéns. Tanto pelo sentido de ocasião, como pela edição cuidada, que felizmente não cedeu ao famigerado Acordo Ortográfico. E porque o livro enquanto objecto também é importante, há a destacar a bela e sóbria capa gravada que se esconde debaixo da esplêndida imagem impressa na sobrecapa.

Este é um livro pequeno em tamanho, mas grande em qualidade – tal como o reinado de D. Pedro V. [publicado na edição desta semana de «O Diabo»]